segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Espiritualidade Litúrgica e Ecologia

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Monsenhor Guedes

Fraternidade e Vida no Planeta - Campanha da Fraternidade 2011

Espiritualidade: Atitude que serve de base à vida cristã e que conduz os seres humanos ao encontro com o transcendente, o eterno e invisível. O que é material em nós não responde às nossas aspirações . Somos caminhantes do infinito; passageiros e transeuntes da glória futura e definitiva.
Liturgia: Ciência sagrada da ação, do agir e da busca. Busca-se, na Liturgia, através de sua forte espiritualidade, uma firme vivência pessoal com o Senhor vivo e ressuscitado, presente e atuante no irmão e na irmã que nascem, choram, vibram, cantam e rezam os louvores da Trindade Santa entre tantas outras atitudes. Esta ação litúrgica se centraliza na pessoa e na vida de Jesus que nasceu em contato com a fauna e a flora; teve contato com as águas dos rios e do mar; falou dos lírios do campo, dos pardais, das redes, das ovelhas e do pastor; alimentou-se do que a terra e o mar produziram. E, por fim, morreu sobre o lenho da cruz, madeira retirada da natureza e sepultado no seio da mãe-terra.
Ecologia: Condutora de tudo o que é criado às recíprocas influências entre os seres vivos. Sem uma preocupação ecológica, a natureza, como um todo, entraria na cultura da morte sobrepondo-se à cultura da vida. Uma batalha entre a vida e a morte seria fácil de ser verificada. A vitoriosa tem que ser a vida.
A sagrada Liturgia existe pela generosidade de sua ritualidade. Só o rito comunica o sagrado em cada elemento nele encontrado.
Da riqueza de nosso solo, são trazidos os componentes de nossos locais celebrativos. Fascina-nos a beleza estampada nos templos onde se desenvolve a triunfal Liturgia. São os campos, rios, florestas e animais que fornecem a matéria essencial para a existência do Culto sagrado. Já imaginaram se a terra não produzisse a uva e o trigo e os rios nos negassem suas águas? Até as abelhinhas colaboram com um elemento esplêndido que aparece no magno momento do ano litúrgico que é a Vigília Pascal produzindo a cera do Círio Pascal. Este elemento, a vela acesa, comunica-nos a presença do Senhor ressuscitado, chama-nos à maturidade da fé, convida-nos e nos desafia a sermos chamas constantes na escuridão da sociedade em que vivemos.
O homem e a mulher, senhores da riqueza animal e vegetal, se servem daquilo que a natureza lhes oferece e, na sua capacidade de reflexão e crescimento na fé, sentem a necessidade de reunirem tudo e todos para a celebração do Mistério Pascal, razão máxima do nosso peregrinar. Como pensarmos e celebrarmos a Liturgia sem esta realidade?
Homens e mulheres se inter-relacionam e o culto divino acontece. A criação é recriada; os louvores a esta criação se tornam possíveis; a fé é celebrada e nos amadurece; a natureza e as pessoas, como em uníssono, dão glória à Trindade Santa e, então, vão acontecendo um novo céu e uma nova terra; anjos e santos também entram em sintonia com a ação litúrgica celebrada.
O que fazem as comunidades espalhadas por este país através do Ofício Divino em torno da Palavra de Deus? Outra coisa não acontece, com maior brilho, do que cantar as maravilhas do Criador e da criação servindo-se da beleza e da importância das coisas criadas. A Liturgia das Horas, na oração da manhã no Dia do Senhor, o Domingo, traz-nos, pelos louvores das criaturas de Daniel, a síntese triunfal de toda a realidade criada.
Quem de nós não gostaria de trocar os nossos espaços celebrativos construídos nos centros barulhentos de nossas cidades, onde buzinas, sirenes, gritos e outros terríveis ruídos desafiam nossa capacidade de rezar com o coração, por um silencioso espaço onde as árvores quebram o silêncio, ao serem agitadas pelos ventos, as águas barulham nas cachoeiras e os pássaros teimam em fazer-nos concorrência com o seu canto?
Na Liturgia, tem que haver um constante eco ecológico: afinal, Deus, a quem, no culto sagrado, nos dirigimos por Cristo, no Espírito Santo, é o mesmo Deus, Senhor da natureza. O Aleluia cantado na Liturgia tem que ressoar em nossas matas, campos, rios e mares.
Conclusão

“ As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo.” (Gaudium et Spes 1). A dor e o lamento dos homens e das mulheres interpretam os sofrimentos da mãe- natureza, dilacerada pela falta de escrúpulos de homens e mulheres que a maltratam tanto.
Liturgia e Ecologia se entrelaçam e juntas, no espírito do Ressuscitado, cantam a glória de Deus, não como realidades desconhecidas, mas como uma realidade em que aqueles elementos se combinam.
Portanto, celebrar a Liturgia é celebrar o universo inteiro, servindo-se do ter para se chegar ao Ser supremo, na defesa e no respeito que este mesmo universo merece. Que assim seja!