De acordo com os documentos da Igreja, é possível depreender que o cristão deve ter consciência política, mas não se envolver partidariamente, com base em vários princípios e ensinamentos.
Primeiramente, a Encíclica "Gaudium et Spes"
(A Igreja no Mundo Moderno) do Concílio Vaticano II, destaca a importância da
participação dos leigos na vida pública. No entanto, enfatiza que essa
participação deve ser orientada por princípios éticos e morais universais, não
se limitando a interesses partidários específicos. A seção 75 da "Gaudium
et Spes" declara:
"É necessário
que todos, especialmente os leigos, tomem consciência da própria vocação e
missão política, sempre respeitando a dignidade da pessoa humana e os
princípios do bem comum."
Este trecho
sublinha a necessidade de uma consciência política, que é essencial para a
construção de uma sociedade justa, mas não implica necessariamente em uma
filiação partidária.
Além disso, a Encíclica "Deus Caritas Est"
(Deus é Amor) de Bento XVI, reforça a importância do papel dos cristãos na vida
pública, mas alerta contra o envolvimento partidário que possa comprometer a
unidade e a caridade:
"A Igreja não
pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a
sociedade mais justa possível. Não pode nem deve substituir o Estado. Mas
também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça."
Bento XVI enfatiza
que a missão da Igreja é de natureza espiritual e pastoral, e que os cristãos,
embora devendo promover a justiça e o bem comum, devem evitar o envolvimento
partidário que possa fragmentar a comunidade cristã e desviar da missão
evangelizadora da Igreja.
Outro documento
relevante é a Instrução "Libertatis
Conscientia" (Sobre Liberdade Cristã e Liberação) da Congregação para
a Doutrina da Fé, que aborda a relação entre fé e política. Este documento
menciona:
"A fé, por
sua própria natureza, não se pode identificar com nenhuma posição política
específica."
Isso sugere que a
adesão a um partido político pode, por vezes, colocar os cristãos em situações
de compromisso com posições que podem não estar completamente alinhadas com os
ensinamentos da fé, levando a conflitos de consciência.
Finalmente, o Compêndio da Doutrina Social da Igreja,
especialmente nos parágrafos 565-574, aborda a participação dos cristãos na
política, destacando que:
"A ação
política deve ser para o serviço do homem e do bem comum, respeitando a justiça
e os direitos humanos, mas sempre guiada por uma formação de consciência que
evite a militância partidária."
Em suma, embora a
Igreja encoraje a consciência política e a participação ativa dos cristãos na
vida pública para promover o bem comum, ela adverte contra o envolvimento
partidário que possa comprometer a integridade da fé, a unidade da comunidade e
a missão pastoral da Igreja. Dessa forma, a participação política deve ser
guiada por princípios morais e éticos universais, sem se restringir a
ideologias partidárias específicas.
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