quinta-feira, 26 de outubro de 2023

A Correção Fraterna

 

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/a-correcao-fraterna-2/

 

A correção fraterna é uma advertência que o cristão faz ao seu próximo para o ajudar a avançar no caminho da santidade. É um instrumento de progresso espiritual que contribui para conhecermos os nossos defeitos pessoais e, com a ajuda de Deus, encararmos esses defeitos e melhorar na nossa vida cristã.

 

1. A correção fraterna, tradição de raiz evangélica

 

A correção fraterna tem uma profunda raiz evangélica. Jesus aconselha a sua prática no contexto de um discurso sobre o serviço aos mais pequenos e o perdão sem limites: “Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão”[1].

 

O próprio Jesus corrige os discípulos em diversas ocasiões, como nos mostram os Evangelhos: censura-os pelo germe de inveja que manifestam ao verem alguém que expulsava demônios em nome de Jesus[2]; repreende Pedro com firmeza porque não pensa como Deus, mas como os homens[3]; orienta a ambição desordenada de Tiago e João, corrigindo com carinho o modo errado como entendiam o reino que Jesus anuncia, ao mesmo tempo que reconhece as corajosas disposições dos dois irmãos para “beber o seu cálice”[4].

 

A partir do exemplo e dos ensinamentos de Jesus, a correção fraterna passou a ser uma espécie de tradição da família cristã, vivida desde o início da Igreja, uma obrigação ao mesmo tempo de amor e de justiça. Entre os conselhos de São Paulo aos cristãos de Corinto conta-se o de “se encorajarem mutuamente” (exhortamini invicem)[5]. Inúmeras passagens do Novo Testamento testemunham o desvelo dos pastores da Igreja ao corrigirem os abusos que estavam se infiltrando em algumas das primitivas comunidades cristãs[6]. No século IV, Santo Ambrósio, testemunha da prática da correção fraterna, escreve: “Se descobrires num amigo algum defeito, corrige-o a sós (…). É um fato que as correções fazem bem e são de maior proveito que uma amizade muda. Se o amigo se sentir ofendido, corrige-o mesmo assim; insiste sem medo, mesmo que o sabor amargo da correção o desgoste. Está escrito no livro dos Provérbios que as feridas provocadas por um amigo são mais toleráveis que os beijos dos aduladores (Pr 27,6)[7]. Também Santo Agostinho previne sobre a falta grave que suporia omitir esta ajuda ao nosso próximo: “Pior és tu calando do que ele pecando”[8].

 

2. A correção fraterna, uma necessidade do cristão

 

O fundamento natural da correção fraterna é a necessidade que qualquer pessoa tem de que os outros a ajudem a atingir o seu fim, pois ninguém se vê bem a si mesmo nem reconhece facilmente as suas faltas. Daí que também autores clássicos tenham recomendado esta prática como meio para ajudar os amigos. Corrigir o outro é expressão de amizade e de franqueza, e traço que distingue o adulador do amigo verdadeiro[9]. Deixar-se corrigir, por sua vez, é sinal de maturidade e condição de progresso espiritual: “Quem é bom se compraz em ser advertido, já os piores toleram com muita resistência quem os corrige” (Admoneri bónus gaudet; pessimus quisque rectorem asperrime patitur)[10].

 

O cristão precisa de que os seus irmãos na fé lhe façam o favor da correção fraterna. Com outras ajudas imprescindíveis – oração, mortificação, bom exemplo – essa prática – já constante da sabedoria do povo judeu – constitui um meio fundamental para alcançar a santidade, contribuindo assim para a extensão do Reino de Deus no mundo: “O que observa a disciplina está no caminho da vida; anda errado o que esquece a repressão”[11].

 

3. Corrigir por amor

 

A correção fraterna cristã nasce da caridade, virtude teologal que nos leva a amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos, por amor a Deus. Sendo a caridade o “vínculo da perfeição[12] e a base de todas as virtudes, o exercício da correção fraterna é fonte de santidade pessoal para quem a faz e para quem a recebe. Para a pessoa que faz a correção, é uma oportunidade de viver o mandamento do Senhor: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amo”[13]. Para quem a recebe, traz as luzes necessárias para renovar a sua adesão a Cristo naquele aspecto concreto que foi objeto de correção. “A prática da correção fraterna – que tem raiz evangélica – é uma prova de carinho sobrenatural e de confiança. Agradece-a quando a receberes, e não deixes de a praticá-la com aqueles com quem convives”[14]. A correção fraterna não tem origem na irritação por uma ofensa que se recebe, nem na soberba ou vaidade feridas por faltas alheias. Só o amor pode ser o genuíno motivo para corrigir o próximo. Como ensina Santo Agostinho, “devemos, pois, corrigir com amor; não com desejo de causar dano, mas com a carinhosa intenção de conseguir a emenda. Se assim procedermos, cumpriremos muito bem o preceito: Se o teu irmão pecar contra ti, repreende-o entre ti e ele só. Porque o corriges? Porque ficaste aborrecido com a ofensa que te fez? Deus não o permita. Se o fazes por amor-próprio, nada fazes. Se o que te leva a fazê-lo é o amor, ages de modo sublime”[15].

 

4. A correção fraterna, dever de justiça

 

O dever que têm os cristãos de corrigir fraternalmente o seu próximo é uma exigência grave da virtude da caridade[16]. Encontramos no Antigo Testamento exemplos em que Javé lembra aos profetas essa obrigação, como no caso da advertência feita a Ezequiel: “Filho do homem, eu te constituí sentinela na casa de Israel. Logo que escutares um oráculo meu, tu lhe transmitirás esse oráculo de minha parte. Se eu disser ao pecador que ele deve morrer, e tu não o avisares para pô-lo de guarda contra seu proceder nefasto, ele perecerá por causa de seu pecado, mas a ti pedirei conta do seu sangue"Todavia, se depois de receber tua advertência para mudar de proceder, nada fizer, ele perecerá devido ao seu pecado, enquanto tu salvarás a tua vida”[17].

 

A mesma ideia aparece no Novo Testamento. O Apóstolo São Tiago põe-na em destaque: “Meus irmãos, se alguém fizer voltar ao bom caminho algum de vós que se afastou para longe da verdade, saiba: aquele que fizer um pecador retroceder do seu erro, salvará sua alma da morte e fará desaparecer uma multidão de pecados”[18]. E São Paulo considera a correção fraterna o meio mais adequado para atrair quem se afastou do bom caminho: “Se alguém não obedecer ao que ordenamos por esta carta […] não deveis considerá-lo como inimigo, mas repreendê-lo como irmão”[19]. Quando vemos as faltas dos nossos irmãos não podemos permanecer numa atitude passiva ou indiferente. Muito menos, queixarmo-nos ou fazermos acusações mal-humoradas: “É de maior proveito a correção amiga que a acusação irritada; a primeira leva à compunção, a última à indignação”[20].

 

Se todos os cristãos precisam dessa ajuda, temos o especial dever de praticar a correção fraterna com aqueles que ocupam determinadas posições de autoridade, de direção espiritual, de formação, etc., na Igreja e nas suas instituições, nas famílias e nas comunidades cristãs. Quem dirige precisa dessa ajuda com maior urgência pela maior responsabilidade da função que desempenha, pois, “Ninguém acende uma lâmpada e a cobre com um vaso ou a põe debaixo da cama; mas a põe sobre um castiçal, para iluminar os que entram”[21]. De igual modo, quem desempenha tarefas de governo ou formação tem uma especial responsabilidade em a praticar. Considerando estes casos São Josemaria ensina: “Esconde-se um grande comodismo - e, por vezes, uma grande falta de responsabilidade - naqueles que, constituídos em autoridade, fogem da dor de corrigir, com a desculpa de evitar o sofrimento aos outros.Talvez poupem desgostos nesta vida..., mas põem em risco a felicidade eterna - a sua e a dos outros - pelas suas omissões, que são verdadeiros pecados”[22].

 

5. Disposições necessárias para fazer e para receber a correção fraterna

 

A “comunhão dos santos” entre os que, unidos a Cristo morto e ressuscitado, ainda vivem peregrinos neste mundo, encontra na correção fraterna uma das suas manifestações mais genuínas. Todos nós, cristãos, formamos em Cristo uma só família, a Igreja, para louvor e glória da Trindade Santíssima[23].

 

Por isso, o exercício habitual da correção fraterna é mais patente no cristão que toma consciência da sua responsabilidade pela santidade dos outros, ou seja, do seu dever de colaborar para que cada batizado persevere no lugar onde Deus o chamou a santificar-se. Esta consciência torna-se cada vez mais viva, fomentando de modo habitual as disposições de solicitude para com o próximo, quer dizer, por meio de um “sadio preconceito psicológico de pensar habitualmente nos outros”[24].

 

Outra atitude igualmente necessária é estarmos dispostos a vencer as dificuldades que possam surgir:

 

1) Ter uma visão excessivamente humana e pouco sobrenatural, que faça pensar que não vale a pena fazer a correção;

2) Ter medo de magoar o corrigido;

3) Julgar que a indignidade pessoal é impedimento para corrigir o outro, que se considera mais capaz ou mais idôneo;

4) Achar que não é oportuno corrigir, quando se tem – inclusive em maior grau – o mesmo defeito que devemos corrigir no outro;

5) Pensar que não é possível que a pessoa corrigida melhore, ou que a mesma correção já foi anteriormente feita sem resultados visíveis.

 

Em última análise, tais conflitos procedem habitualmente de respeitos humanos, do medo de ficar mal ou de um excessivo comodismo. Tudo isto desaparece facilmente se está viva a consciência habitual da comunhão dos santos e, portanto, da lealdade devida à Igreja e aos seus pastores, às suas instituições e a todos os irmãos na fé.

 

Para receber com fruto a correção fraterna, o corrigido deve atualizar com frequência os seus desejos de santidade, para assim ver na advertência recebida uma graça divina que lhe servirá para melhorar na fidelidade a Deus e no serviço aos outros. O exercício da virtude da humildade dar-lhe-á as disposições adequadas para acolher as correções com agradecimento, e permitir-lhe-á ouvir a voz de Deus sem endurecer o coração[25].

 

6. Como fazer e receber uma correção fraterna

 

Dos conselhos concretos de Jesus[26] e de outros ensinamentos contidos nos evangelhos sobre a correção fraterna depreendem-se alguns traços característicos do modo como se deve praticar a correção fraterna: visão sobrenatural, humildade, delicadeza e carinho.

 

Sendo uma advertência com finalidade sobrenatural – a santidade do corrigido –, convém que quem corrige pondere na presença de Deus a oportunidade da correção e o modo mais prudente de a fazer (o momento mais conveniente, as palavras mais adequadas, etc.) para evitar humilhar o corrigido. Pedir luzes ao Espírito Santo e rezar pela pessoa a corrigir favorece o clima sobrenatural necessário para que a correção seja eficaz.

 

É igualmente oportuno que a pessoa que corrige considere com humildade, na presença de Deus, a sua indignidade pessoal, e se examine sobre a falta que é matéria de correção. Santo Agostinho aconselha que se faça um exame de consciência, pois é frequente darmo-nos conta nos outros precisamente daquilo que mais nos falta a nós: “Quando a necessidade nos obrigar a repreender ou corrigir a alguém, perguntemo-nos se aquele vício apontado não é de tal natureza que nunca o tivemos, ou se é dos que já nos libertamos. Também se nunca o cometemos, pensemos que somos humanos e podemos vir a cometê-lo. Caso o tenhamos tido no passado, e agora nos sentimos livres dele, suscitemos a consciência de nossa fragilidade, para que a indulgência, e não o ódio, nos dite a censura ou a correção”[27].

 

A delicadeza e o carinho são traços distintivos da caridade cristã e também, portanto, da prática da correção fraterna. Para garantir que essa advertência é expressão de autêntica caridade, é importante perguntar a si mesmo, antes de a fazermos: como agiria Jesus nesta circunstância, para com esta pessoa? Assim perceberemos melhor que Jesus não só corrigiria com prontidão e firmeza, mas também com amabilidade, compreensão e carinho. A este propósito, ensina São Josemaria: “A correção fraterna, sempre que devas fazê-la, há de estar cheia de delicadeza - de caridade! - na forma e no fundo, pois naquele momento és instrumento de Deus”[28]. Uma demonstração concreta de delicadeza será fazer essa advertência a sós com o interessado, prescindindo de qualquer comentário ou brincadeira que possa perturbar o clima sobrenatural em que se realiza a correção.

 

Ao praticar a correção fraterna, dever-se-á evitar uma possível tendência para o anonimato. Esta inclinação desaparece quando, com a graça de Deus, quem corrige faz um ato concreto de lealdade e pensa na comunhão dos santos. A lealdade levá-lo-á a corrigir frente a frente, sem fingir nem diminuir a exigência, com a franqueza de quem procura o bem do outro e a santidade da Igreja. A necessária firmeza na correção não é incompatível com a amabilidade e a delicadeza: quem corrige deve assemelhar-se a uma “maça poderosa de aço, almofadada”[29].

 

A virtude da prudência desempenha aqui um papel importante como guia, regra e medida do modo de fazer – e também de receber – a correção fraterna. “A prudência leva a razão a discernir, em cada circunstância, o nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para o realizar”[30]. Por isso, uma norma de prudência comprovada pela experiência é pedir conselho a uma pessoa sensata (o diretor espiritual, o sacerdote, o superior, etc.) sobre a oportunidade de fazer a correção. Esta consulta, longe de ser uma acusação ou denúncia, constitui um sábio exercício da virtude da caridade, que procura evitar que alguém seja corrigido por várias pessoas sobre o mesmo assunto, e ajuda quem corrige a amadurecer os seus juízos e a formar a sua própria consciência; em resumo, a ser “alma de critério”[31]. A prudência levará também a não fazer com excessiva frequência correções sobre o mesmo assunto, pois deve-se contar com a graça de Deus e com o tempo para que os outros melhorem.

 

As matérias que são objeto de correção fraterna abarcam todos os aspetos da vida do cristão, pois todos eles constituem o seu campo de santificação pessoal e do apostolado da Igreja. De modo geral, podemos pôr em destaque os seguintes pontos:

 

1) Hábitos contrários aos mandamentos da lei de Deus ou da Igreja;

2) Atitudes ou comportamentos que chocam com o testemunho que um cristão está chamado a dar na vida familiar, social, profissional, etc.;

3) Faltas isoladas, caso constituam grave dano para a vida cristã do interessado ou para o bem da Igreja[32].

 

Ao recebê-la, é importante sabermos manter uma atitude adequada, que se resume nestes aspectos: visão sobrenatural, humildade e agradecimento. Ao receber a correção, é razoável que a pessoa corrigida a aceite com agradecimento, sem discutir nem dar explicações ou desculpas, pois vê em quem o corrige um irmão que se preocupa com a sua santidade. Nos casos em que do fundo da alma brote irritação ou desagrado, convirá meditar as palavras de são Cirilo: “A repreensão, que faz melhorar os humildes, costuma parecer intolerável aos soberbos”[33]. Nestes casos, a prudência aconselha a meditar na presença de Deus sobre a correção recebida para penetrar em todo o sentido; e, no caso de não a entendermos, para pedirmos conselho a uma pessoa prudente (sacerdote, diretor espiritual, etc.) que ajude a compreender o seu alcance.

 

7. Os frutos da correção fraterna

 

São inúmeros os benefícios da prática da correção fraterna, tanto para quem a recebe como para quem a faz. Como ato concreto de caridade cristã, tem por frutos a alegria, a paz e a misericórdia. Além disso, supõe o exercício de muitas virtudes: caridade, humildade, prudência; melhora a formação humana, tornando as pessoas mais bem-educadas; facilita o relacionamento entre as pessoas, tornando-o mais sobrenatural e, ao mesmo tempo, mais agradável do ponto de vista humano; orienta o possível espírito crítico negativo, que poderia levar a julgar com sentido pouco cristão o comportamento dos outros; impede murmurações ou piadas de mau gosto sobre comportamentos ou atitudes do nosso próximo; fortalece a unidade da Igreja e das suas instituições a todos os níveis, contribuindo para dar maior coesão e eficácia à missão evangelizadora; garante a fidelidade ao espírito de Cristo; permite aos cristãos experimentar a segurança que vem da certeza de saberem que não lhes faltará a ajuda dos seus irmãos na fé: “O irmão ajudado pelo seu irmão é forte como um cidade amuralhada”[34].

 

J. Alonso

julho 2010

 

Bibliografia básica

 

§ Catecismo da Igreja Católica, 1822-1829

Santo Agostinho, Sermo 82

São Tomás de Aquino, Suma Teológica II-IIae, q. 33

São Josemaria:

-Sulco: 373, 707, 821, 823, 907

-Forja: 146, 147, 455, 566, 567, 577, 641

-Amigos de Deus, 20, 69, 157, 158, 160-161, 234

M. Nepper, Correction Fraternelle, em Dictionnaire de spiritualité, ascétique et mystique II, Beauchesne, Paris 1953, 2404-2414

C. Gennaro, Corrección fraterna, en E. Ancilli, Diccionario de espiritualidad, I, Herder, Barcelona 1987 (2ª ed. ), 499-500

J. M. Perrin, El misterio de la caridad, Rialp, Madrid 1962

[1]Mt 18, 15.

[2]Cf. Mc 9, 38-40.

[3]Cf. Mt 16, 23.

[4]Cf. Mt 20, 20-23.

[5]2 Cor 13, 11.

[6]Cf., p. ex., St 2.

[7]Santo Ambrósio, De officiis ministrorum III, 125-135.

[8] Santo Agostinho, Sermo 82, 7.

[9]Cf. Plutarco, Moralia, I.

[10]Séneca, De ira, 3, 36, 4.

[11]Pr 10, 17.

[12]Cf. Col 3, 14.

[13]Jo 15, 12.

[14]São Josemaria, Forja, n. 566.

[15]Santo Agostinho, Sermo 82, 4.

[16]Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1829.

[17]Ez 33, 7-9.

[18]Tg 5, 19- 20.

[19]2 Ts 3, 13-15; Cf. Gl 6, 1.

[20]Santo Ambrósio, Catena Aurea, VI.

[21]Lc 8, 16; Cf. Mc 4, 21.

[22]São Josemaria, Forja, n. 577.

[23]Cf. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 195.

[24]São Josemaria, Forja, n. 861.

[25]Cf. Salmo 94.

[26]Mt 18, 15-17: “Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão. 16.Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas. 17.Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano”.

[27]Santo Agostinho, Sobre o Sermão da Montanha, 2.

[28]São Josemaria, Forja, n. 147.

[29]Cf. Id., Caminho, n. 397.

[30]Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 380.

[31]Cf. São Josemaria, Caminho, Introdução.

[32]Como é lógico, no seio das diversas instituições da Igreja constituem também matéria de correção fraterna comportamentos ou faltas que se oponham ao espírito ou aos costumes próprios de cada uma dessas instituições suscitadas por Deus.

[33]São Cirilo, Catena Aurea, vol. VI

[34]Pr 18, 19.

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

O gesto da Assembleia na oração do Pai Nosso;

 

Na terceira edição típica do Missal romano a tradução visa o sentido do Latim, da língua portuguesa e da cultura brasileira.

Ao Dicastério para a Liturgia da Cúria Romana cabe “confirmar” e “reconhecer” os textos traduzidos.

Confirmar; é atestar que a tradução reflete no vernáculo o texto original em Latim.

Reconhecer; é aceitar aqueles textos, que embora litúrgicos e de acordo com o Santo Evangelho, não estão presentes no Missal Romano original em Latim.

 

O gesto dos fieis precisou do reconhecimento, das formas de introduzir ao Pai Nosso a 7ª forma não está originalmente presente no Missal Romano em Latim, foi tomado da tradição da igreja ambrosiana, do rito de Santo Ambrósio.

 

“Guiados pelo Espirito Santo que ora em nós e por nós elevemos as mãos ao Pai e rezemos juntos a oração que o próprio Jesus nos ensinou”.

 

Essa introdução foi “Reconhecida” por Roma e todas as demais traduções confirmadas.

 

Ao rezarmos o Pai Nosso seguimos o que dizia Tertuliano no final do século II início do III. Ele diz sobre a oração nº14:

“Quanto a nós, ao dizermos o Pai Nosso não só erguemos as mãos senão que também a estendemos. ”

Distinção teológica; um é o gesto de abrir os braços na hora da oração Eucarística, é um gesto unicamente presidencial, faz parte do ministério Ordenado. O Pai Nosso é a oração do povo sacerdotal, renascidos nas aguas do Batismo e ungidos pelo Espirito Santo. Por isso “Guiados pelo Espirito Santo que ora em nós e por nós elevemos as mãos ao Pai e rezemos juntos a oração que o próprio Jesus nos ensinou”.

 

Assim, no Brasil é realmente licito erguermos e estender as mãos durante a oração do Pai Nosso.

Não podemos confundir com proibição à assembleia o decoro daqueles que servem o Altar, que se mantem de mãos unidas evitando competir com os gestos do presidente da celebração, assim evidenciando a centralidade da ação litúrgica em Cristo por ele celebrada.

 

Fonte: Dom Edmar Peron

https://www.youtube.com/watch?v=WYZiT_1KOtI&list=PLotYrxGR4ETnXLm5S3NZq2LYzZM-o8z5G&index=2

Discurso do Santo Padre na XVIII Congregação Geral da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, 25.10.2023

 

Discurso do Santo Padre na XVIII Congregação Geral da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, 25.10.2023

https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2023/10/25/0742/01633.html

https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2023-10/papa-paciencia-povo-deus-suporta-maus-tratos-sinodo.html

[B0742]

 

Esta tarde, durante a XVIII Congregação Geral da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, o Santo Padre Francisco proferiu um discurso, cujo texto publicamos a seguir:

 

Discurso do Santo Padre:

 

Gosto de pensar na Igreja como um povo fiel de Deus, santo e pecador, um povo convocado e chamado com a força das bem-aventuranças e de Mateus 25.

Jesus, para a sua Igreja, não assumiu nenhum dos esquemas políticos do seu tempo: nem fariseus, nem saduceus, nem essênios, nem zelotes. Nenhuma “empresa fechada”; Simplesmente retoma a tradição de Israel: “vocês serão o meu povo e eu serei o seu Deus”.

Gosto de pensar na Igreja como esse povo simples e humilde que caminha na presença do Senhor (o povo fiel de Deus). Este é o sentido religioso do nosso povo fiel. E digo pessoas fiéis para não cair nas múltiplas abordagens e esquemas ideológicos com que se “reduz” a realidade do povo de Deus. Simplesmente gente fiel, ou também, “santo povo fiel de Deus” a caminho, santo e pecador. E a Igreja é isso.

Uma das características deste povo fiel é a sua infalibilidade; sim, é infalível em credendo. (In credendo falli nequit, diz LG 9) Infabilitas in credendo. E explico assim: “quando você quiser saber o que acredita a Santa Madre Igreja, vá ao Magistério, porque ele é o responsável por ensiná-lo, mas quando quiser saber como a Igreja acredita, vá aos fiéis”, pessoas.

Uma imagem me vem à mente: os fiéis reunidos na entrada da Catedral de Éfeso. A história (ou lenda) diz que as pessoas estavam em ambos os lados do caminho para a Catedral enquanto os Bispos em procissão faziam a sua entrada, e que em coro repetiam: “Mãe de Deus”, pedindo à Hierarquia que declarasse essa verdade dogma. eles já possuíam como povo de Deus. (Alguns dizem que tinham paus nas mãos e os mostraram aos Bispos). Não sei se é história ou lenda, mas a imagem é válida.

O povo fiel, o povo fiel e santo de Deus, tem uma alma, e porque podemos falar da alma de um povo, podemos falar de uma hermenêutica, de um modo de ver a realidade, de uma consciência. O nosso povo fiel tem consciência da sua dignidade, batiza os seus filhos, enterra os seus mortos.

Os membros da Hierarquia vêm desse povo e recebemos a fé desse povo, geralmente de nossas mães e avós, “sua mãe e sua avó”, diz Paulo a Timóteo, uma fé transmitida em dialeto feminino, como a Mãe dos Macabeus que falava “em dialeto” com seus filhos. E aqui gosto de sublinhar que, no povo santo e fiel de Deus, a fé é transmitida em dialeto, e geralmente em dialeto feminino. Isto não acontece apenas porque a Igreja é Mãe e são precisamente as mulheres que melhor a refletem; (a Igreja é mulher), mas porque são as mulheres que sabem esperar, como descobrir os recursos da Igreja, do povo fiel, assumem riscos além do limite, talvez com medo, mas com coragem, e no claro-escuro da um dia que começa Eles se aproximam de uma tumba com a intuição (ainda sem esperança) de que possa haver alguma vida.

A mulher do povo santo e fiel de Deus é um reflexo da Igreja. A Igreja é feminina, é esposa, é mãe.

Quando os ministros excedem o seu serviço e maltratam o povo de Deus, desfiguram o rosto da Igreja com atitudes sexistas e ditatoriais (basta lembrar a intervenção da Irmã Liliana Franco). É doloroso encontrar em algumas secretarias paroquiais a “tabela de preços” dos serviços sacramentais em estilo supermercado. Ou a Igreja é o povo fiel de Deus a caminho, santo e pecador, ou acaba sendo uma empresa de serviços variados. E quando os agentes pastorais tomam este segundo caminho, a Igreja torna-se o supermercado da salvação e os padres meros funcionários de uma multinacional. É a grande derrota a que nos leva o clericalismo. E isto com muita vergonha e escândalo (basta ir às alfaiatarias eclesiásticas de Roma para ver o escândalo dos jovens padres experimentando batinas e chapéus ou alvas e roquetes com renda).

O clericalismo é um chicote, é um flagelo, é uma forma de mundanismo que suja e prejudica o rosto da esposa do Senhor; escraviza o povo santo e fiel de Deus.

E o povo de Deus, o povo santo e fiel de Deus, continua avançando com paciência e humildade, suportando o desprezo, os maus-tratos e a marginalização por parte do clericalismo institucionalizado. E com que naturalidade falamos dos príncipes da Igreja, ou de promoções episcopais como avanços na carreira! Os horrores do mundo, a mundanidade que maltrata o povo santo e fiel de Deus.

 

[01633-ES.01] [Texto original: espanhol]

 

[B0742-XX.01]