Monsenhor João
Alves Guedes
A Igreja está
sempre nos recordando a incompatibilidade que há entre sermos cristãos e não
sermos missionários. O ser do cristão se alimenta continuamente no ser
missionário. A Igreja possui todos os ingredientes divinos e humanos para
oferecer-nos suportes na realização de um trabalho pela construção do Reino,
onde homens e mulheres tenham condições de crescerem como pessoas queridas e
amadas do Pai do céu. A Igreja nos defende já em nossa concepção; recebe-nos
como filhos; oferece-nos o Pão do Céu; unge-nos para termos forças e nos envia
como trabalhadores de uma grande lavoura cuja produtividade e colheita podem
correr perigos sem a nossa constante atividade. Esta lavoura é ampla,
diversificada e oferece trabalho para todos. Há muitas tarefas desde a sala de
nossa casa, na vizinhança, nas ruas, nas famílias e em todos os lugares do
universo. Esta é a visão de conjunto no campo da missionariedade. Não podemos
pensar que o trabalho missionário esteja longe. É claro que a missão
continental e além fronteiras são preocupações de toda a Igreja.
É sensato
pensarmos com seriedade nossas atividades caseiras, paroquiais e
arquidiocesanas não numa dimensão de excentricidade, mas de responsabilidade,
tomando como meta a realidade do Corpo de Cristo, edificado pelos seres humanos
espalhados pelo mundo inteiro mas que também estão muito perto de nós.
Cada função contemplada nas Dimensões da
Ação Evangelizadora é missão urgente. Neste sentido, qualquer encargo assumido
com esforço, responsabilidade e doação contempla fortemente o apelo missionário
da Igreja.
As atividades
voltadas para a Sagrada Liturgia, a pastoral litúrgica, as comissões diocesanas
e paroquiais e o ensino da Liturgia continuam sendo uma preocupação da Igreja
no cinquentenário da Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Liturgia.
Há muito
para plantarmos, cuidarmos e colhermos nesta lavoura do trabalho com a pastoral
litúrgica recheada de aventuras. Parece que a pastoral litúrgica, que ainda não
se tornou prioridade entre nós, é um vasto terreno de “missão”. Carecemos de
muitos e excelentes “missionários” da liturgia. Afinal, o sujeito da missão se
encontra em todas as pessoas oferecidas ao Pai no lenho da cruz pelo Cristo que
venceu a morte, está vivo e ressuscitado, presente e atuante na vida e na
história de cada pessoa e a Liturgia nos proporciona um encontro comunitário e
pessoal com o Senhor que é o centro de toda ação litúrgica.
Os cinquenta
anos da Constituição Sacrosanctum Concilium poderia e deveria ser um espaço em
nossa história eclesial que vive à luz do Concílio Vaticano II, um tempo de
ação de graças, de reflexão, estudo e melhor estruturação de nossa caminhada
litúrgica. Ação de graças pelo grande dom que o Espírito Santo nos deu através
dos dezesseis documentos do Concílio, sendo a Sacrosanctum Concilium o primeiro
a ser aprovado; reflexão e pedido de perdão por não termos caminhado mais e
melhor em tudo o que nos trazem as determinações litúrgicas entre tantas outras
provenientes do magistério da Igreja.
O estudo da
Liturgia precisa seguir as determinações da Igreja para os padres conhecerem
com segurança as maravilhas do Deus Uno e Trino, a Virgem Maria e os Santos na
mística das celebrações litúrgicas das quais eles são os presidentes. Graças a
Deus, alguns institutos de formação dos padres estão levando a sério o estudo
da Sagrada Liturgia.
A melhor
solução no serviço à pastoral litúrgica e na condução dos ritos que nos levam
ao mistério celebrado, não é e nunca será um retorno ao passado e nem a
invenção de um grande aparato de ritualismo sempre danoso à ação celebrada. O
rito executado com segurança é a expressão segura da epifania do Mistério
Pascal. É urgente a presença do indispensável bom senso para que se desenvolva
o rito na utilização de uma simbologia exigida pela seriedade da ação
celebrada. Quando se utilizam pessoas e objetos em demasia, sufoca-se o rito e
a comunicação com o sagrado se dispersa. O equilíbrio e a sensatez não podem
ficar fora do contexto amadurecido de uma ação litúrgica.
O espírito e a
ação missionários são ingredientes do nosso ser de cristãos. A Liturgia
perpetua a ação de Jesus entre nós e nos fortalece para o serviço maduro e
continuado.
Todo e
qualquer trabalho de um cristão tem que ser assumido como fonte de missão. A
Liturgia emana uma fonte perene de graças; por isso, ela é uma fonte de missão
e os operários das ações litúrgicas devem se sentir missionários.
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