Monsenhor João Alves Guedes
Abre-se a porta do avião e milhares de
olhos se voltam para um hóspede que desembarca num país chamado Brasil. Era o
sumo pontífice, o santo Padre Francisco ou, simplesmente, o papa, o Bispo de
Roma, como ele prefere ser chamado.
Ao caminhar para o cumprimento das
pessoas, já podíamos perceber que se tratava de alguém dotado de equilíbrio
poucas vezes apreciado.
O veículo que o conduzia era simples e de
cor diferente dos demais.
O vidro aberto nos possibilitava ver
Francisco que nos recomendava abrirmos
as portas do coração, dos ouvidos e da inteligência, porque grandes surpresas
estavam para acontecer.
O povo vibrava.
Nem a incompetência das pessoas
responsáveis pela segurança papal atrapalhava o doce homem de branco, Cristo
entre nós. Aliás, uma leitura do que ele nos queria dizer com o vidro do carro
aberto é forte demais.
Ao longo do percurso, iniciava-se um lindo
ritual de tomar as crianças nos braços, neste país onde as crianças, os idosos
e os pobres não encontram abertas muitas portas de casas, hospitais e escolas.
No encontro com as autoridades desta
terra, Francisco revelou que trazia um presente para esta Nação, que, às vezes,
bate nos fracos e protege os mais fortes. Ele trouxe Jesus Cristo.
Na cidade do Rio de Janeiro, a cidade
maravilhosa que guarda tantas belezas e tantas pobrezas, era fácil vermos as
bandeiras que tremulavam em cento setenta e cinco países-cores; os jovens
repletos de brilhos, envolvidos pelas danças, que cantavam no frio e na chuva.
Não queríamos o “papa móvel”, mas o “papa
imóvel”. Todos queriam tocá-lo e dizer: “Francisco, eu te amo, o Brasil e o
mundo te amam.”
No
Santuário de Aparecida, Francisco falou com a Mãe e a Mãe certamente sorriu
para ele.
Na comunidade de Varginha e no hospital
São Francisco, contemplamos um dos momentos fortes da presença de Francisco
entre nós: o papa falou, caminhou, sorriu, emocionou, abraçou e abençoou muitos
irmãos nossos, esquecidos da sociedade e vitimas das agruras das mais diversas
necessidades. Como se sentirão os idosos, os jovens necessitados e as crianças
depois que Francisco esteve com eles?
A exemplo do Francisco de Assis, nosso
Francisco parecia chamar de irmãos os montes, as colinas, os pássaros, as
praias, as ruas, mas guardava para as pessoas um aconchego especial.
As pessoas estavam deslumbradas: lágrimas
brotavam de emoção em milhares de faces. Os corações batiam mais forte. O céu
parecia estar mais vizinho de todas as pessoas. O Campo da Fé, local anteriormente
programado para receber os peregrinos e o Papa, estava repleto de lama. Ninguém
previu que poderia chover ?!..Então,
lembrou-se de Copacabana; ah, Copacabana! Ali, sempre existiu um campo de
beleza, de ternura, de cantos e encontros, de versos e poesia. Naquele lugar
atapetado pela areia e enfeitado pelas águas quase dez milhões de pessoas se
aglomerou durante as quatro celebrações do Papa Francisco. O coração do povo se
alegrava, a fé aumentava, renascia a esperança e o desejo de “ver” o céu amadurecia.
Nunca vimos na história do Rio de Janeiro
tanta gente reunida cantando, rezando, vibrando e silenciando em momentos
divinos quando a Trindade Santa falou através do barulho das ondas do mar.
Quase quatro milhões de pessoas de todas as partes do mundo, presentes naquele
histórico domingo de sol, sentia o amor de Deus agindo fortemente na história
da humanidade de hoje, escrita com lágrimas, sangue e morte de tantos irmãos
nos diversos continentes.
Como os momentos de transfiguração passam
rápido e o Tabor não é morada definitiva, o Papa Francisco começava suas
despedidas, no feliz domingo dia 28 de julho de 2013, na maior celebração da
missa de envio. Todos os homens e mulheres presentes e ausentes foram enviados
a buscarem a cultura do encontro.
Vereadores, prefeitos, deputados, senadores,
governadores, chefes das Nações, principalmente do Brasil não podem cultivar
uma cultura em que existam privilegiados recebendo honras, glórias e fortunas
em detrimento das dores do nosso povo, vítima da maldade da ganância do “ter
mais”.
A
simplicidade deve estar presente na missão dos bispos e padres para que eles
sigam ao encontro do povo de Deus a eles confiado. Não se mede a seriedade dos
homens que receberam o sacramento da Ordem pela suntuosidade de vestes, carros
e casas, mas pela nobreza da pobreza evangélica.
Finalmente, Francisco retornou à Cidade
Eterna, com sua maleta que contém alguns objetos e que, com certeza, levou, no
coração, todos nós que o vimos e o ouvimos.
O Brasil, depois do Papa Francisco ter
pisado em nossa terra, precisa ser melhor. Você e eu precisamos ser melhores.
Abençoe-nos, querido Papa Francisco,
porque nós já o abençoamos.
(¹) Monsenhor João Alves
Guedes – Escritor, Professor, Assessor de Liturgia do Regional Leste 1 da CNBB
e Pároco da Igreja São Lourenço de Niterói RJ
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