quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O MUNDO POSSUI UM FRANCISCO




Monsenhor João Alves Guedes

 

Abre-se a porta do avião e milhares de olhos se voltam para um hóspede que desembarca num país chamado Brasil. Era o sumo pontífice, o santo Padre Francisco ou, simplesmente, o papa, o Bispo de Roma, como ele prefere ser chamado.

Ao caminhar para o cumprimento das pessoas, já podíamos perceber que se tratava de alguém dotado de equilíbrio poucas vezes apreciado.

O veículo que o conduzia era simples e de cor diferente dos demais.

O vidro aberto nos possibilitava ver Francisco que nos recomendava    abrirmos as portas do coração, dos ouvidos e da inteligência, porque grandes surpresas estavam para acontecer.

O povo vibrava.

Nem a incompetência das pessoas responsáveis pela segurança papal atrapalhava o doce homem de branco, Cristo entre nós. Aliás, uma leitura do que ele nos queria dizer com o vidro do carro aberto é forte demais.

Ao longo do percurso, iniciava-se um lindo ritual de tomar as crianças nos braços, neste país onde as crianças, os idosos e os pobres não encontram abertas muitas portas de casas, hospitais e escolas.

No encontro com as autoridades desta terra, Francisco revelou que trazia um presente para esta Nação, que, às vezes, bate nos fracos e protege os mais fortes. Ele trouxe Jesus Cristo.

Na cidade do Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa que guarda tantas belezas e tantas pobrezas, era fácil vermos as bandeiras que tremulavam em cento setenta e cinco países-cores; os jovens repletos de brilhos, envolvidos pelas danças, que cantavam no frio e na chuva.

Não queríamos o “papa móvel”, mas o “papa imóvel”. Todos queriam tocá-lo e dizer: “Francisco, eu te amo, o Brasil e o mundo te amam.”

 No Santuário de Aparecida, Francisco falou com a Mãe e a Mãe certamente sorriu para ele. 

Na comunidade de Varginha e no hospital São Francisco, contemplamos um dos momentos fortes da presença de Francisco entre nós: o papa falou, caminhou, sorriu, emocionou, abraçou e abençoou muitos irmãos nossos, esquecidos da sociedade e vitimas das agruras das mais diversas necessidades. Como se sentirão os idosos, os jovens necessitados e as crianças depois que Francisco esteve com eles?

A exemplo do Francisco de Assis, nosso Francisco parecia chamar de irmãos os montes, as colinas, os pássaros, as praias, as ruas, mas guardava para as pessoas um aconchego especial.

As pessoas estavam deslumbradas: lágrimas brotavam de emoção em milhares de faces. Os corações batiam mais forte. O céu parecia estar mais vizinho de todas as pessoas. O Campo da Fé, local anteriormente programado para receber os peregrinos e o Papa, estava repleto de lama. Ninguém previu  que poderia chover ?!..Então, lembrou-se de Copacabana; ah, Copacabana! Ali, sempre existiu um campo de beleza, de ternura, de cantos e encontros, de versos e poesia. Naquele lugar atapetado pela areia e enfeitado pelas águas quase dez milhões de pessoas se aglomerou durante as quatro celebrações do Papa Francisco. O coração do povo se alegrava, a fé aumentava, renascia a esperança e o desejo de “ver” o céu amadurecia.

Nunca vimos na história do Rio de Janeiro tanta gente reunida cantando, rezando, vibrando e silenciando em momentos divinos quando a Trindade Santa falou através do barulho das ondas do mar. Quase quatro milhões de pessoas de todas as partes do mundo, presentes naquele histórico domingo de sol, sentia o amor de Deus agindo fortemente na história da humanidade de hoje, escrita com lágrimas, sangue e morte de tantos irmãos nos diversos continentes.

Como os momentos de transfiguração passam rápido e o Tabor não é morada definitiva, o Papa Francisco começava suas despedidas, no feliz domingo dia 28 de julho de 2013, na maior celebração da missa de envio. Todos os homens e mulheres presentes e ausentes foram enviados a buscarem a cultura do encontro.

 Vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores, chefes das Nações, principalmente do Brasil não podem cultivar uma cultura em que existam privilegiados recebendo honras, glórias e fortunas em detrimento das dores do nosso povo, vítima da maldade da ganância do “ter mais”.

 A simplicidade deve estar presente na missão dos bispos e padres para que eles sigam ao encontro do povo de Deus a eles confiado. Não se mede a seriedade dos homens que receberam o sacramento da Ordem pela suntuosidade de vestes, carros e casas, mas pela nobreza da pobreza evangélica.

Finalmente, Francisco retornou à Cidade Eterna, com sua maleta que contém alguns objetos e que, com certeza, levou, no coração, todos nós que o vimos e o ouvimos.

O Brasil, depois do Papa Francisco ter pisado em nossa terra, precisa ser melhor. Você e eu precisamos ser melhores.

Abençoe-nos, querido Papa Francisco, porque nós já o abençoamos.             

   

  (¹) Monsenhor João Alves Guedes – Escritor, Professor, Assessor de Liturgia do Regional Leste 1 da CNBB e Pároco da Igreja São Lourenço de Niterói RJ

 

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