sexta-feira, 21 de junho de 2024

Consciência política para o cristão não é se envolver partidariamente.

 

De acordo com os documentos da Igreja, é possível depreender que o cristão deve ter consciência política, mas não se envolver partidariamente, com base em vários princípios e ensinamentos.

 

Primeiramente, a Encíclica "Gaudium et Spes" (A Igreja no Mundo Moderno) do Concílio Vaticano II, destaca a importância da participação dos leigos na vida pública. No entanto, enfatiza que essa participação deve ser orientada por princípios éticos e morais universais, não se limitando a interesses partidários específicos. A seção 75 da "Gaudium et Spes" declara:

 

"É necessário que todos, especialmente os leigos, tomem consciência da própria vocação e missão política, sempre respeitando a dignidade da pessoa humana e os princípios do bem comum."

 

Este trecho sublinha a necessidade de uma consciência política, que é essencial para a construção de uma sociedade justa, mas não implica necessariamente em uma filiação partidária.

 

Além disso, a Encíclica "Deus Caritas Est" (Deus é Amor) de Bento XVI, reforça a importância do papel dos cristãos na vida pública, mas alerta contra o envolvimento partidário que possa comprometer a unidade e a caridade:

 

"A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível. Não pode nem deve substituir o Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça."

 

Bento XVI enfatiza que a missão da Igreja é de natureza espiritual e pastoral, e que os cristãos, embora devendo promover a justiça e o bem comum, devem evitar o envolvimento partidário que possa fragmentar a comunidade cristã e desviar da missão evangelizadora da Igreja.

 

Outro documento relevante é a Instrução "Libertatis Conscientia" (Sobre Liberdade Cristã e Liberação) da Congregação para a Doutrina da Fé, que aborda a relação entre fé e política. Este documento menciona:

 

"A fé, por sua própria natureza, não se pode identificar com nenhuma posição política específica."

 

Isso sugere que a adesão a um partido político pode, por vezes, colocar os cristãos em situações de compromisso com posições que podem não estar completamente alinhadas com os ensinamentos da fé, levando a conflitos de consciência.

 

Finalmente, o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, especialmente nos parágrafos 565-574, aborda a participação dos cristãos na política, destacando que:

 

"A ação política deve ser para o serviço do homem e do bem comum, respeitando a justiça e os direitos humanos, mas sempre guiada por uma formação de consciência que evite a militância partidária."

 

Em suma, embora a Igreja encoraje a consciência política e a participação ativa dos cristãos na vida pública para promover o bem comum, ela adverte contra o envolvimento partidário que possa comprometer a integridade da fé, a unidade da comunidade e a missão pastoral da Igreja. Dessa forma, a participação política deve ser guiada por princípios morais e éticos universais, sem se restringir a ideologias partidárias específicas.

sexta-feira, 14 de junho de 2024

"quem não perdoa não pode amar"

 

A frase "quem não perdoa não pode amar" ressoa profundamente na teologia católica, ecoando através das Escrituras, dos ensinamentos dos Padres da Igreja e dos documentos magisteriais. Para compreender plenamente essa afirmação, é necessário explorar a interconexão entre o perdão e o amor à luz da doutrina católica.

 

Escrituras Sagradas

 

As Escrituras fornecem uma base sólida para a conexão entre perdão e amor. Em Mateus 6,14-15, Jesus ensina:

 "Se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas."

 Este ensinamento enfatiza que o perdão é uma condição sine qua non para experimentar o amor de Deus. Sem a disposição de perdoar, uma pessoa se fecha ao amor divino, que é a fonte de todo amor autêntico.

 Em Lucas 7,47, Jesus diz sobre a mulher pecadora que lhe lavou os pés com suas lágrimas:

 "Por isso, eu te digo: seus muitos pecados lhe foram perdoados, porque ela muito amou. Mas aquele a quem pouco é perdoado, pouco ama."

 Aqui, o amor é apresentado como consequência do perdão recebido, sugerindo que a capacidade de amar plenamente está intrinsecamente ligada à experiência e à prática do perdão.

 

Doutrina dos Padres da Igreja

 Os Padres da Igreja também enfatizam a relação entre perdão e amor. Santo Agostinho, em sua obra "Confissões", reflete sobre a natureza do amor e do perdão, afirmando que o verdadeiro amor é impossível sem a reconciliação e o perdão mútuo. Ele escreve:

 "Responde-me, Senhor! Espargi e lavrastes a terra; desde então ela começou a produzir os seus frutos. E vós, Senhor Deus meu, me respondereis. Dizei-me que sentido tem minha vida. É um enigma: por que um homem deseja odiar a outro senão porque desconhece a beleza do amor e a alegria do perdão?"

 Agostinho sublinha que o ódio e a falta de perdão são resultados da ignorância do amor verdadeiro, que só pode ser plenamente realizado através do perdão.

 

Documentos da Igreja e Papas

 Os documentos da Igreja e os ensinamentos papais reforçam esta doutrina. O Catecismo da Igreja Católica (CIC 2840) declara:

 "Ora, é impossível observar o mandamento do Senhor se, por sua vez, não perdoamos do fundo do coração aqueles que nos ofenderam. (...). O perdão é uma condição essencial da reconciliação dos filhos de Deus com seu Pai e dos homens entre si."

 Este ensinamento indica que o perdão é essencial não apenas para a reconciliação com Deus, mas também para a comunhão verdadeira entre as pessoas.

 

São João Paulo II, em sua encíclica "Dives in Misericordia" (1980), enfatiza:

"A verdadeira misericórdia é, ao mesmo tempo, a manifestação mais profunda do amor e o mais completo e profundo reconhecimento da dignidade do homem."

 Aqui, o perdão é visto como a expressão mais elevada do amor misericordioso, refletindo a dignidade de cada pessoa como imagem de Deus.

 

Reflexão Final

 

A frase "quem não perdoa não pode amar" encapsula uma verdade fundamental da teologia católica: o perdão é um pré-requisito para o amor autêntico. Sem perdão, o coração permanece fechado, incapaz de experimentar e expressar o amor divino. O perdão abre o coração à graça de Deus, permitindo que o amor floresça plenamente. Assim, para amar verdadeiramente como Cristo nos ama, devemos primeiro aprender a perdoar, seguindo Seu exemplo supremo de perdão na cruz: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lucas 23,34).

Essa interconexão entre perdão e amor, profundamente enraizada nas Escrituras, nos ensinamentos dos Padres da Igreja e nos documentos magisteriais, revela a beleza e a profundidade do chamado cristão ao amor incondicional e ao perdão misericordioso.