segunda-feira, 21 de abril de 2025

Aquele que pede desculpas trilha um caminho de humildade e reconhecimento.

 Que profunda verdade reside nessas palavras! Aquele que pede desculpas trilha um caminho de humildade e reconhecimento. Não busca barganhar o perdão, mas sim expor a chaga do erro cometido e o sincero arrependimento que o acompanha. A desculpa é, antes de tudo, um ato de justiça para consigo mesmo e para com o outro, uma tentativa de restaurar, ainda que minimamente, a ordem rompida pela falha.

A Doutrina Católica ecoa essa compreensão. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que o pecado fere a comunhão com Deus e com a Igreja (CIC 1440). O Sacramento da Penitência ou Reconciliação é o caminho ordinário pelo qual o fiel batizado é reconciliado com Deus e com a Igreja após ter cometido pecado mortal (CIC 1446). Contudo, a contrição, o sincero pesar pelo pecado cometido e o firme propósito de não mais pecar, é o primeiro ato do penitente (CIC 1451). A contrição brota do amor a Deus, que é sumamente bom e digno de todo amor, ou do temor do pecado e das penas eternas. Essa contrição interior precisa ser expressa externamente, e o pedido de perdão é uma manifestação crucial desse arrependimento.

As Sagradas Escrituras nos oferecem inúmeros exemplos que iluminam essa reflexão. O Salmo 51 [50] é um clamor de Davi após seu pecado, onde ele não exige o perdão, mas suplica misericórdia, reconhecendo sua transgressão e seu coração contrito: "Tende piedade de mim, ó Deus, segundo a vossa grande misericórdia; apagais a minha iniqüidade, segundo a vossa grande compaixão. Lavai-me totalmente da minha culpa, e purificai-me do meu pecado!" (Salmo 51, 1-2). A parábola do Filho Pródigo (Lucas 15, 11-32) ilustra vividamente o arrependimento do filho que, reconhecendo seu erro, retorna ao pai sem esperar ser recebido com festa, mas com a humildade de um servo. A reação do pai, transbordante de amor e perdão, ressalta a gratuidade desse dom.

A sabedoria dos doutores da Santa Igreja também nos oferece luz. Santo Agostinho, em suas Confissões, narra sua jornada de pecado e conversão, enfatizando a importância do reconhecimento da própria miséria como ponto de partida para a graça divina. Ele compreendeu profundamente que a confissão do pecado não é uma mera formalidade, mas um ato de verdade que abre o coração à misericórdia de Deus. São João Crisóstomo pregava sobre a necessidade de uma sincera penitência, que se manifesta não apenas em palavras, mas em obras concretas que demonstrem a mudança de coração.

Portanto, a desculpa sincera é um passo fundamental, um reconhecimento da verdade do erro e um testemunho do arrependimento. No entanto, o perdão reside na liberdade do coração ofendido. É um ato de amor e misericórdia que pode ser concedido ou não. Aquele que pede desculpas cumpre sua parte no restabelecimento da justiça e da paz; aquele que perdoa exerce a sublime virtude da caridade, seguindo o exemplo do próprio Cristo, que na cruz rogou: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lucas 23, 34).

Em suma, a desculpa é um ato de humildade e reconhecimento, enquanto o perdão é um dom gratuito, fruto da misericórdia e do amor. Ambos são essenciais para a cura das feridas causadas pelo erro, mas cada um opera em sua própria esfera de liberdade e responsabilidade. Aquele que se desculpa planta a semente da reconciliação; aquele que perdoa oferece a água da graça para que essa semente possa florescer.

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