C. S.
Lewis em “O Regresso Do Peregrino”, uma releitura da obra clássica “O Peregrino”
(1678. John Bunyan), nos fala das visões que John (personagem central) tem de
uma ilha e a sensação que lhe provoca um intenso mais passageiro anseio,
acompanhado de uma intensa sensação de obrigação moral. Na tentativa de
entender essa sensação de anseio “John” se vê a volta com falsas tentativas e
falsas compreensões desse anseio. O Regresso do Peregrino explora esses falsos
caminhos ao longo do curso da vida.
É empregado
uma imagem de uma estrada que conduz a essa ilha pela qual John anseia. Essa
estrada é margeada ao Norte e ao Sul por terras áridas. Ao Norte os pensamentos
objetivos baseados na razão, ao Sul os subjetivos baseados na emoção,
imaginação. Quanto mais o protagonista se afasta do centro da estrada, tanto
mais extremas se tornam suas posições. Lewis defende na obra o pensamento
racional contra argumentos puramente baseados nas emoções, ao mesmo tempo que
se recusa a aceitar uma abordagem puramente racional da fé. Para Lewis é necessário
haver uma forma que concilie ou reconcilie razão e emoção, essas duas forças
aparentemente opostas.
Ao
passo que a narrativa da obra avança, se torna cada vez mais claro que essa
reconciliação só pode ser fornecida pela “Madre Igreja” (embora muitos atribuam
a imagem aqui apresentada a Igreja Católica, Lewis fala do Cristianismo puro e
simples).
Percorrendo
as terras ao norte da estrada John encontra maneiras de pensar que desconfiam
profundamente de seus sentimentos. O Norte é uma região fria, clinicamente
racional, de sistemas rígidos, Extremismo religioso tradicionalista, ortodoxias
insípidas, seletivamente arrogante, de um racionalismo extremo, que leva a errônea
conclusão que os sentimentos e emoção são sempre duvidosos. O Sul é uma terra
onde todos os sentimentos se justificam pelo simples fato de serem sentidos, o
ascetismo, o niilismo, o liberalismo religioso, em um ambiente propicio a intoxicação
mística ou emocional.
Lewis
fala desse desejo provocado pelo anseio como um profundo abismo da alma humana,
tão grande que só Deus pode preencher. Normalmente entendemos esse desejo como
um anseio por algo tangível e presente no mundo. John que desejava a ilha
(matéria) aos poucos percebe que seu verdadeiro anseio é pelo “proprietário”
(Deus, a fé) da ilha.
O
Regresso do peregrino descreve duas jornadas, a de ida à ilha e a de volta.
Depois de chegar à Fé (ilha onde encontra seu proprietário, e a fé) percorrendo
a estrada de volta, regressando pela mesma paisagem da ida, descobre que a aparência
das coisas mudou. John agora enxerga de uma forma nova, está enxergando (pela
lente da fé) a verdadeira forma das coisas, tal qual foram criadas, como são na
realidade. Segundo C. S. Lewis a fé cristã nos permite ver as coisas como elas
realmente são.
(cf.
Alister McGrath, “C. S. LEWIS DO ATEÍSMO AS TERRAS DE NARNIA”)
Assim
como John, caminhamos em uma estrada ladeada de armadilhas travestidas de boas
coisas, tendemos a nos abandonar em um racionalismo extremo ou a um liberalismo
tão extremo quanto. Identificamos o mundo como alvo final de nosso caminho para
a Fé, como a ilha para John, não acreditamos da mediação e conciliação entre um
lado e outro, muitas vezes defendendo ferreamente nossa posição. Deixamos nos
levar pelos falsos conceitos de realidade e compreensão errônea das coisas,
pois olhamos com os olhos da razão ou os da emoção (imaginação), enquanto não
alcançamos a fé de fato estamos sujeitos a um extremo ou outro do caminho.
A
Santa Madre Igreja (aqui falo da Igreja Católica em si) é nossa guia nesse
caminho, nos orientando, sendo a conciliadora dos extremos e trazendo a
centralidade dessa estrada, o próprio Jesus Cristo. Ao fim dessa estrada,
alcançando a fé, não concluímos a caminhada, pois há ainda o regresso. Mas a
partir daqui tudo muda, pois a luz da fé, razão e emoção na medida certa,
estamos diante de um mundo completamente novo aos nossos olhos, pois como nos
anuncia At 9,9-19 e 2Cor 3,13-16, nossos olhos foram abertos, o véu que os
cobria removido pela fé.
Por
isso o período Pré-catecumenal é tão importante, fazer os catecúmenos se
apaixonar por Cristo, removemos o véu e lhe abrimos os olhos, semeamos a fé.
Assim o caminho que se segue é por uma perspectava completamente nova, embora estejam
fazendo o caminho de volta na estrada, agora olham a tudo com um novo olhar,
enxergando a realidade da natureza das coisas, criação Divina, com a lente da
fé e a condução da Santa Madre Igreja podemos nos aprofundar sem o risco de
cairmos nas armadilhas do extremismo ou do relativismo.
Buscamos
plenitude de nosso ser no mundo perene, ao passo que só podemos alcançar essa plenitude
fora deste mundo, na morada eterna, junto de Deus.
Diác.
Adriano Gomes.
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