sexta-feira, 9 de maio de 2025

O Pedido de Bênção como Abertura à Graça de Deus

A Declaração Fiducia Supplicans, publicada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé em 2023 e aprovada pelo Papa Francisco, apresenta uma compreensão pastoral renovada sobre o sentido das bênçãos na vida da Igreja. Um dos pontos centrais é a afirmação de que o pedido de bênção não deve ser recusado com base em julgamentos morais prévios, especialmente quando feito por pessoas ou casais em situações consideradas irregulares, como casais do mesmo sexo ou em uniões não sacramentais.

1. A bênção como gesto de fé e confiança

O pedido espontâneo de uma bênção expressa uma abertura sincera à ação de Deus. A pessoa que pede demonstra humildemente sua necessidade da graça divina, confiança na misericórdia e desejo de viver melhor segundo os desígnios de Deus.

“Ao pedir uma bênção, expressamos um pedido de auxílio a Deus, um apelo para poder viver melhor, uma confiança num Pai que pode nos ajudar a viver melhor.” (Fiducia Supplicans, n. 21)

2. Acolher sem exigir perfeição moral

A declaração adverte contra o risco de exigir que a pessoa esteja plenamente conforme à moral católica para receber uma simples bênção. Isso converteria um gesto de misericórdia em instrumento de exclusão.

“Não se deve pedir a eles que tenham perfeição moral prévia.” (n. 25)
“Quando as pessoas invocam uma bênção, ela não deve ser submetida a uma análise moral aprofundada como pré-condição para conferi-la.” (n. 25)

3. Inspirados na misericórdia de Cristo

Jesus abençoou e acolheu pecadores, doentes, estrangeiros e marginalizados, sem impor condições prévias para se aproximarem d’Ele (cf. Mc 2,17; Jo 8,11). Do mesmo modo, a Igreja é chamada a oferecer bênçãos como gesto de aproximação e esperança, não como um julgamento moral.

4. A bênção como caminho de conversão

A bênção é também uma semente do Espírito Santo na vida da pessoa. Pode ser o início de um processo de conversão, reconciliação e crescimento na fé. Como afirma a declaração:

“A bênção oferece às pessoas um meio para aumentar sua confiança em Deus. [...] É uma semente do Espírito Santo que deve ser cuidada, não impedida.” (n. 33)

5. Conclusão

Portanto, negar uma bênção com base apenas em critérios morais prévios é contrário à lógica da misericórdia cristã. O ato de abençoar, sobretudo em contextos não litúrgicos e de forma simples, deve ser um gesto pastoral de proximidade, especialmente para os que mais se sentem excluídos ou feridos.

“A vida da Igreja passa por muitos canais além daqueles normativos [...]. Tudo o que nos resta é a alegria de o abençoar e de lhe agradecer, e de aprender com Ele a não amaldiçoar, mas a abençoar.” (n. 45)

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