A Solenidade de Nosso
Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, foi instituída pelo Papa Pio XI em 1925
através da sua encíclica Quas Primas, publicada no dia 11 de
dezembro.
·
Data Original: Inicialmente, a
festa era celebrada no último domingo de outubro.
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Mudança Pós-Vaticano
II:
Com a reforma litúrgica após o Concílio Vaticano II (em 1969), a Solenidade foi
transferida para o último domingo do Ano Litúrgico (entre 20 e 26 de novembro).
Esta mudança sublinha que Cristo é a meta da história e o fim último da nossa
peregrinação terrena, encerrando e coroando todo o ciclo de celebrações.
A Motivação Principal (A Peste do Laicismo)
O Papa Pio XI
instituiu esta festa em um contexto mundial marcado por profundas
transformações e crises, especialmente após a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918), e tinha uma motivação clara: reafirmar a soberania de Jesus Cristo
sobre todas as esferas da vida humana e social.
A motivação central
foi combater o que Pio XI chamou de "peste" de seu tempo: o laicismo
(ou secularismo radical), que buscava remover completamente a autoridade e a
lei de Deus e da Igreja das leis, da moral pública, da política e da sociedade.
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Contra a Autonomia
Radical:
A festa servia como um lembrete solene de que as nações e os indivíduos não são
soberanos absolutos. Mesmo as autoridades civis devem reconhecer que estão
submetidas à autoridade moral e às leis de Cristo, o Rei dos reis.
·
A Solução para a
Crise:
Pio XI via o reconhecimento universal da realeza de Cristo como o remédio mais
eficaz para os males da sociedade moderna, que incluíam a divisão, a ganância e
a rejeição dos valores cristãos. Ele resumiu isso no lema: "A paz de
Cristo no Reino de Cristo" (Pax Christi in Regno Christi).
Portanto, a
Solenidade não é apenas uma devoção individual, mas um ato público que clama
para que a justiça, a paz e a caridade, os atributos do Reino de Cristo que se
manifestam na Cruz, possam moldar e redimir o mundo.
Cristo Rei, o Cordeiro Sacrificial
A Santa Igreja
Católica celebra a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. É
o coroamento do Ano Litúrgico e a proclamação da verdade central de nossa fé: Cristo
é o Soberano de tudo o que existe, de todo o tempo e de toda a eternidade.
Mas a realeza que
celebramos não é como a realeza deste mundo. A comunidade judaica esperava um
Messias-Rei guerreiro, que empunharia a espada, travaria batalhas e libertaria
Israel através do poder bélico. Um rei que, como num jogo de xadrez,
sacrificaria seus "peões", o seu povo, para proteger a si mesmo no
trono.
O Evangelho de hoje,
porém, e toda a Escritura nos revelam o oposto: o nosso Rei se sacrifica em
função da salvação de Seu povo.
1. O Rei Cordeiro na Escritura Sagrada
O profeta Isaías, ao
falar do Servo Sofredor, já antecipava essa realeza paradoxal:
“Ele, porém, foi ferido por causa das nossas
transgressões, esmagado por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos
traz a paz caiu sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.” (Isaías 53,
5).
Esta é a imagem do
Rei que sofre e carrega o peso de Seus súditos. E o apogeu desta verdade se
encontra no Calvário. O trono de Cristo não é um palácio dourado, mas a Cruz;
Sua coroa não é de ouro, mas de espinhos. O título real: "Jesus Nazareno,
Rei dos Judeus" (João 19, 19) foi afixado em Seu madeiro, o lugar de Seu
supremo sacrifício.
O Apóstolo São Paulo
resume essa realeza sacrificial na Epístola aos Filipenses:
“Tendo a condição divina, não se prevaleceu de sua
igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de
escravo... humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte, e morte
de cruz.” (Filipenses 2, 6-8).
2. A Realeza de Serviço e Sacrifício na Tradição
Os Padres da Igreja
meditaram profundamente sobre esta singularidade. Santo Agostinho, por exemplo,
nos lembra que Cristo reina servindo. Ele é o Rei cuja realeza se manifesta na
caridade e na humildade. Ele lava os pés de Seus discípulos (João 13, 1-17),
dando-nos o modelo de Seu governo.
O Catecismo da Igreja
Católica (CIC) reforça que Jesus cumpriu a esperança messiânica não pela força
militar, mas pela humilhação:
“O Reino de Cristo é 'justiça, paz e alegria no Espírito
Santo' (Rm 14, 17). A vinda do Reino, na Sua realeza, realizou-se no mistério
pascal (Sua Paixão, Morte e Ressurreição). [...] Cristo é o Rei do Universo por
herança (Sua divindade) e por conquista (Sua Cruz).” (Ver CIC 786 e 668).
O Concílio Vaticano
II, na Constituição Dogmática Lumen Gentium, reafirma que Cristo estabeleceu
Seu Reino não por manifestações de força, mas por Sua total doação:
“Cristo Senhor... consumou a salvação da humanidade e a
glorificação perfeita de Deus com o Seu principal Sacrifício no altar da Cruz.”
(Lumen Gentium 3).
3. Aplicações para a Vida Cristã
Irmãos, a Solenidade
de Cristo Rei nos convida a reavaliar a nossa própria noção de poder. Se o
nosso Rei se entrega por nós, também nós somos chamados a entregar a vida em
sacrifício e serviço aos outros.
O poder de Cristo se
manifesta no amor que cura, no perdão que liberta e na Eucaristia; o sacrifício do Rei Cordeiro, renovado em nosso altar.
É o Rei que se faz Pão para alimentar o Seu povo.
Ao celebrarmos a Sua
Soberania, renovemos nossa fidelidade a este Rei humilde, a este Rei
crucificado, que provou que o amor sacrificial é a única forma verdadeira de
reinar.
Cristo venceu! Cristo reina! Cristo impera!
Amém.
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