segunda-feira, 26 de maio de 2025

Sermos sempre Verdadeiros

 É muito bonito quando olhamos para nossa vida anterior e reconhecemos que ela ainda faz parte de quem somos. Ela está ali, presente na memória, na formação do nosso caráter, nas experiências que vivemos. No entanto, agora, à luz da fé, percebemos que não somos mais definidos por ela. A fé nos transforma, mas não nos anula.

Não é sobre se anular.

É sobre ser quem você é,

transformado pelo amor.

Ser de Deus não é escravidão,

é liberdade com identidade.


“Foi para a liberdade que Cristo nos libertou.”

(Gálatas 5,1)


Eu sou profundamente incentivador de sermos verdadeiramente quem somos — com nossa história, personalidade, dons e até mesmo nossas fragilidades. Servir a Deus não significa apagar a nossa identidade ou fingir ser alguém que não somos. Pelo contrário, Deus nos chama justamente como somos, e é em nossa autenticidade que Ele opera.

Anular-se completamente não é um ato de santidade, é um ato de escravidão — e Cristo não nos chama para a escravidão, mas para a liberdade. Como está escrito: "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou" (Gálatas 5,1). Ele nos convida a segui-Lo em liberdade, conscientes de que a transformação que vivemos não destrói quem somos, mas nos aperfeiçoa, nos eleva, nos purifica.

Servir a Cristo é viver a verdade mais profunda de nós mesmos, libertos das amarras do pecado, mas plenos de sentido, de identidade e de propósito. Em Cristo, encontramos a liberdade de sermos aquilo que fomos criados para ser.

Diác. Adriano Gomes


A Igreja é Una, Não Uniforme

 Unidade na diversidade: redescobrindo o coração da Liturgia e da fé comunitária



Introdução        

Vivemos tempos de crescente zelo pela liturgia e pela vida da Igreja, o que, em si, é motivo de grande alegria. No entanto, esse zelo precisa ser iluminado pela sabedoria do Evangelho e pela escuta do Espírito Santo. Em nome da beleza ou da busca por “fazer o melhor” para Deus, muitas vezes corremos o risco de substituir a riqueza da comunhão pela rigidez da uniformidade.

Desde o início de minha caminhada cristã, aprendi uma verdade que me acompanha até hoje: “A Igreja é una, não uniforme.” Esta frase resume com clareza uma realidade espiritual profunda, frequentemente esquecida em nossos ambientes eclesiais.


Unidade e Uniformidade: distinções necessárias

A Igreja é una porque é fundada em Cristo, guiada pelo Espírito Santo e alimentada pela Eucaristia. Contudo, essa unidade não exige que todos vivam, celebrem ou se expressem da mesma forma externa. A unidade é espiritual, não estética. Como recorda São Paulo:

“Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo” (1Cor 12,4-5).

Uniformizar a prática da fé e da liturgia segundo gostos pessoais ou de um grupo específico pode sufocar a liberdade e a criatividade inspiradas por Deus. A padronização excessiva — muitas vezes motivada por boas intenções — corre o risco de apagar a sadia criatividade que a Igreja reconhece e valoriza em seus diversos ritos e expressões locais.

O Concílio Vaticano II, em sua constituição Sacrosanctum Concilium, ensina com sabedoria:

“A Igreja não deseja impor uma rigidez uniforme em matéria de ritos, exceto quando necessário; antes, respeita e favorece as qualidades e dotes dos diferentes povos” (SC, 37).


Servir à Liturgia, não se servir dela

A Liturgia é ação de Cristo e da Igreja, não uma vitrine para vaidades pessoais. Quando se impõe uma estética que visa mais agradar os olhos do que abrir os corações à graça, transforma-se o rito sagrado em um espetáculo. Isso ocorre, por exemplo, quando se desconsidera a simplicidade e profundidade da tradição viva, substituindo-a por uma busca artificial pelo “mais bonito”.

Como nos alertou Jesus, podemos nos tornar “sepulcros caiados” (cf. Mt 23,27): belos por fora, mas ocasionalmente vazios por dentro. A exterioridade não pode substituir a comunhão interior. A verdadeira participação litúrgica é ativa e frutuosa, como orienta o próprio Concílio:

“É desejo ardente da Mãe Igreja que todos os fiéis sejam levados àquela participação plena, consciente e ativa nas celebrações litúrgicas” (SC, 14).


A prática comunitária e a experiência pessoal

A fé é vivida pessoalmente, mas se realiza plenamente na comunhão da Igreja. Não podemos confundir nossas práticas individuais com a celebração comunitária, que tem uma dimensão eclesial e doutrinal superior. A Liturgia é obra de toda a Igreja, não de indivíduos isolados.

O Catecismo da Igreja Católica recorda:

“Dentro da rica diversidade dos povos, culturas e tradições, a catolicidade da Igreja se manifesta como uma comunhão que acolhe e santifica as diferenças” (CIC, 814).

Por isso, a tentativa de uniformizar gestos, cantos e expressões pode, ao invés de unir, dividir. A unidade verdadeira é fruto do Espírito, e se dá na caridade, como lembra Santo Agostinho:

“Na essência, unidade; na dúvida, liberdade; em todas as coisas, caridade.”
(In necessariis unitas, in dubiis libertas, in omnibus caritas)


A verdadeira unidade: o amor de Cristo

A unidade desejada por Cristo não é resultado de repetições milimetricamente idênticas, mas de corações unidos no amor e na escuta do Espírito Santo. Jesus mesmo rezou ao Pai:

“Que todos sejam um, como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti, para que também eles estejam em Nós” (Jo 17,21).

Essa unidade nasce da caridade, do serviço, da humildade e do perdão. Nas palavras de São João Paulo II:

“A unidade da Igreja não é uniformidade, mas harmonia multiforme criada pelo Espírito Santo.”
(Homilia em Toronto, 2002)


Conclusão pastoral

Como discípulos missionários, chamados a edificar uma Igreja viva e acolhedora, precisamos cultivar a verdadeira unidade: aquela que nasce da comunhão e do amor. Que nossas comunidades valorizem a simplicidade autêntica da liturgia, a diversidade legítima das expressões de fé e o respeito mútuo entre os diferentes carismas, vocações e ministérios.

Que nunca busquemos “impor” o que nos agrada, mas, em espírito de oração e fidelidade à Igreja, aprendamos a servir à Liturgia e ao Povo de Deus com humildade e reverência, conscientes de que a beleza mais autêntica é aquela que reflete o rosto misericordioso de Cristo.

Que o Espírito Santo nos conceda sabedoria para caminhar juntos — não uniformizados, mas unidos — como Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica.

 

Diác. Adriano T Gomes

Com o auxílio de Valouther*, assistente digital baseado na IA da OpenAI

 

*Valouther é uma inteligência artificial treinada pela OpenAI (Chat GPT), utilizada aqui como apoio na redação, estruturação e ampliação do conteúdo com fidelidade à doutrina católica.

sexta-feira, 9 de maio de 2025

O Pedido de Bênção como Abertura à Graça de Deus

A Declaração Fiducia Supplicans, publicada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé em 2023 e aprovada pelo Papa Francisco, apresenta uma compreensão pastoral renovada sobre o sentido das bênçãos na vida da Igreja. Um dos pontos centrais é a afirmação de que o pedido de bênção não deve ser recusado com base em julgamentos morais prévios, especialmente quando feito por pessoas ou casais em situações consideradas irregulares, como casais do mesmo sexo ou em uniões não sacramentais.

1. A bênção como gesto de fé e confiança

O pedido espontâneo de uma bênção expressa uma abertura sincera à ação de Deus. A pessoa que pede demonstra humildemente sua necessidade da graça divina, confiança na misericórdia e desejo de viver melhor segundo os desígnios de Deus.

“Ao pedir uma bênção, expressamos um pedido de auxílio a Deus, um apelo para poder viver melhor, uma confiança num Pai que pode nos ajudar a viver melhor.” (Fiducia Supplicans, n. 21)

2. Acolher sem exigir perfeição moral

A declaração adverte contra o risco de exigir que a pessoa esteja plenamente conforme à moral católica para receber uma simples bênção. Isso converteria um gesto de misericórdia em instrumento de exclusão.

“Não se deve pedir a eles que tenham perfeição moral prévia.” (n. 25)
“Quando as pessoas invocam uma bênção, ela não deve ser submetida a uma análise moral aprofundada como pré-condição para conferi-la.” (n. 25)

3. Inspirados na misericórdia de Cristo

Jesus abençoou e acolheu pecadores, doentes, estrangeiros e marginalizados, sem impor condições prévias para se aproximarem d’Ele (cf. Mc 2,17; Jo 8,11). Do mesmo modo, a Igreja é chamada a oferecer bênçãos como gesto de aproximação e esperança, não como um julgamento moral.

4. A bênção como caminho de conversão

A bênção é também uma semente do Espírito Santo na vida da pessoa. Pode ser o início de um processo de conversão, reconciliação e crescimento na fé. Como afirma a declaração:

“A bênção oferece às pessoas um meio para aumentar sua confiança em Deus. [...] É uma semente do Espírito Santo que deve ser cuidada, não impedida.” (n. 33)

5. Conclusão

Portanto, negar uma bênção com base apenas em critérios morais prévios é contrário à lógica da misericórdia cristã. O ato de abençoar, sobretudo em contextos não litúrgicos e de forma simples, deve ser um gesto pastoral de proximidade, especialmente para os que mais se sentem excluídos ou feridos.

“A vida da Igreja passa por muitos canais além daqueles normativos [...]. Tudo o que nos resta é a alegria de o abençoar e de lhe agradecer, e de aprender com Ele a não amaldiçoar, mas a abençoar.” (n. 45)