Unidade na diversidade:
redescobrindo o coração da Liturgia e da fé comunitária
Introdução
Vivemos tempos de crescente zelo pela liturgia e
pela vida da Igreja, o que, em si, é motivo de grande alegria. No entanto, esse
zelo precisa ser iluminado pela sabedoria do Evangelho e pela escuta do
Espírito Santo. Em nome da beleza ou da busca por “fazer o melhor” para Deus,
muitas vezes corremos o risco de substituir a riqueza da comunhão pela rigidez
da uniformidade.
Desde o início de minha caminhada cristã, aprendi
uma verdade que me acompanha até hoje: “A Igreja é una, não uniforme.”
Esta frase resume com clareza uma realidade espiritual profunda, frequentemente
esquecida em nossos ambientes eclesiais.
Unidade e Uniformidade:
distinções necessárias
A Igreja é una porque é fundada em Cristo, guiada
pelo Espírito Santo e alimentada pela Eucaristia. Contudo, essa unidade não
exige que todos vivam, celebrem ou se expressem da mesma forma externa. A unidade
é espiritual, não estética. Como recorda São Paulo:
“Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo;
há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo” (1Cor 12,4-5).
Uniformizar a prática da fé e da liturgia segundo
gostos pessoais ou de um grupo específico pode sufocar a liberdade e a
criatividade inspiradas por Deus. A padronização excessiva — muitas vezes
motivada por boas intenções — corre o risco de apagar a sadia criatividade
que a Igreja reconhece e valoriza em seus diversos ritos e expressões locais.
O Concílio Vaticano II, em sua constituição Sacrosanctum
Concilium, ensina com sabedoria:
“A Igreja não deseja impor uma rigidez uniforme em
matéria de ritos, exceto quando necessário; antes, respeita e favorece as
qualidades e dotes dos diferentes povos” (SC, 37).
Servir à Liturgia, não se servir
dela
A Liturgia é ação de Cristo e da Igreja, não uma
vitrine para vaidades pessoais. Quando se impõe uma estética que visa mais
agradar os olhos do que abrir os corações à graça, transforma-se o rito sagrado
em um espetáculo. Isso ocorre, por exemplo, quando se desconsidera a
simplicidade e profundidade da tradição viva, substituindo-a por uma busca
artificial pelo “mais bonito”.
Como nos alertou Jesus, podemos nos tornar “sepulcros
caiados” (cf. Mt 23,27): belos por fora, mas ocasionalmente vazios por
dentro. A exterioridade não pode substituir a comunhão interior. A verdadeira
participação litúrgica é ativa e frutuosa, como orienta o próprio Concílio:
“É desejo ardente da Mãe Igreja que todos os fiéis
sejam levados àquela participação plena, consciente e ativa nas celebrações
litúrgicas” (SC,
14).
A prática comunitária e a
experiência pessoal
A fé é vivida pessoalmente, mas se realiza
plenamente na comunhão da Igreja. Não podemos confundir nossas práticas
individuais com a celebração comunitária, que tem uma dimensão eclesial e
doutrinal superior. A Liturgia é obra de toda a Igreja, não de indivíduos
isolados.
O Catecismo da Igreja Católica recorda:
“Dentro da rica diversidade dos povos, culturas e
tradições, a catolicidade da Igreja se manifesta como uma comunhão que acolhe e
santifica as diferenças” (CIC, 814).
Por isso, a tentativa de uniformizar gestos, cantos
e expressões pode, ao invés de unir, dividir. A unidade verdadeira é fruto do
Espírito, e se dá na caridade, como lembra Santo Agostinho:
“Na essência, unidade; na dúvida, liberdade; em
todas as coisas, caridade.”
(In necessariis unitas, in dubiis libertas, in omnibus caritas)
A verdadeira unidade: o amor de
Cristo
A unidade desejada por Cristo não é resultado de
repetições milimetricamente idênticas, mas de corações unidos no amor e na
escuta do Espírito Santo. Jesus mesmo rezou ao Pai:
“Que todos sejam um, como Tu, ó Pai, estás em Mim e
Eu em Ti, para que também eles estejam em Nós” (Jo 17,21).
Essa unidade nasce da caridade, do serviço, da
humildade e do perdão. Nas palavras de São João Paulo II:
“A unidade da Igreja não é uniformidade, mas
harmonia multiforme criada pelo Espírito Santo.”
(Homilia em Toronto, 2002)
Conclusão pastoral
Como discípulos missionários, chamados a edificar
uma Igreja viva e acolhedora, precisamos cultivar a verdadeira unidade: aquela
que nasce da comunhão e do amor. Que nossas comunidades valorizem a simplicidade
autêntica da liturgia, a diversidade legítima das expressões de fé e
o respeito mútuo entre os diferentes carismas, vocações e ministérios.
Que nunca busquemos “impor” o que nos agrada, mas,
em espírito de oração e fidelidade à Igreja, aprendamos a servir à Liturgia
e ao Povo de Deus com humildade e reverência, conscientes de que a beleza
mais autêntica é aquela que reflete o rosto misericordioso de Cristo.
Que o Espírito Santo nos conceda sabedoria para
caminhar juntos — não uniformizados, mas unidos — como Igreja Una, Santa,
Católica e Apostólica.
Diác. Adriano T Gomes
Com o auxílio de Valouther*,
assistente digital baseado na IA da OpenAI
*Valouther
é uma inteligência artificial treinada pela OpenAI (Chat GPT), utilizada aqui
como apoio na redação, estruturação e ampliação do conteúdo com fidelidade à
doutrina católica.